Blog destinado a estudantes e graduados em psicologia com interesse na filosofia da Analise do comportamento do americano BF Skinner. Administrador: Eduardo Alencar

10/17/2006

Analise do Comportamento aplicado a Organizações: Utilizando economia de fichas para modelar desempenho de pessoal

Autor: Eduardo Alencar
Resumo
Gerenciar recursos humanos para obtenção de rentabilidade fruto de negócios bem sucedido exige gerenciamento de comportamentos, para tanto, psicólogos enquanto cientistas do comportamento estão sendo cada vez mais requisitados dentro do quadro de funcionários de RH de empresas públicas, privadas e mistas, com o intuito de aplicar técnicas para mudança de hábitos e comportamentos, que direcionem os “recursos humanos” a conclusão das metas desenhada pela alta administração, neste sentido, tais psicólogos vem publicando resultado de técnicas eficazes na modelagem de comportamento para mudança de hábitos e melhoria de desempenho, a exemplo de Borges (2004). O presente trabalho objetivou relatar a implementação do processo de “economia de filhas” de Borges (2004) para melhoria de desempenho de Consultores de Recursos Humanos de uma empresa prestadora de serviços em gestão de pessoal, neste artigo, serão percorridos as estratégias, métodos, conclusão e resultados obtidos via intervenção comportamental em organizações.
Palavras chaves: Analise do Comportamento, Behaviorismo Radical, Psicologia Organizacional, Gestão de Desempenho, Economia de Fichas
A Analise do comportamento, é a ciência que estuda o comportamento humano, baseado na filosofia do behaviorismo radical do americano B.F. Skinner. Hoje, ocupa o lugar de uma das mais conhecidas abordagens da psicologia que entende o homem enquanto fruto de interação entre sujeito – ambiente, onde as ações deste sujeito modelam o mundo e as conseqüências dos seus atos retroagem neste sujeito modificando seus comportamentos, ou seja, tal ciência compreende o homem enquanto objeto da psicologia como um ser cujo comportamento deve ser observado e analisado em constante movimento.
Matos e Tomanari (2002), quando afirmam que para o behaviorismo radical, o comportamento está sempre em reconstrução e deve ser compreendido considerando-se que o organismo vivo sofre influências de contingências filogenéticas (atuando no nível do banco genético das espécies), de contingências ontogenéticas (atuando no nível de repertórios comportamentais dos indivíduos) e de contingências culturais (atuando no nível das práticas grupais de uma cultura ou sociedade.), parecem concordar com tal visão.
Sidman (2003), aponta que a análise do comportamento lida com o manejo de nosso próprio comportamento e do comportamento dos outros. Estamos sempre ajustando nossas ações às demandas do mundo ao nosso redor. Analisar comportamento, seria então, analisar estes ajustamentos, assumindo que pessoas, lugares e coisas estão sempre controlando as ações de quaisquer indivíduos, ou seja, analistas do comportamento por tanto, tentam descobrir como estabelecer, facilitar, impedir ou evitar esse controle, não defendendo, mas investigando o controle comportamental, uma vez que a tarefa de determinar qual conduta é aceitável e qual não é fica sob responsabilidade da sociedade.
Dentro das Organizações, o analista do comportamento por tanto, já que detém caminhos para investigar relações entre sujeitos – ambientes, bem como os comportamentos que emergem frutos desta relação, sob um olhar multidisciplinar (ontogenético, filogenético e cultural), conforme apontam Sidman (2003) e Matos e Tomanari (2002), poderiam então, contribuir com o gerenciamento de recursos humanos nos seguintes sentidos:
A) Seleção por competências: qual repertório comportamental constitui a competência de liderança? Como identifica-lo em entrevistas?
B) Promoção de pessoal: qual sujeito detém comportamentos em sua história de vida relevantes ao ambiente para qual será promovido e como esta relação pode trazer benefícios a organização?
C) Treinamento de Pessoal: Como planejar um adequado ambiente que facilite absorção de informação? Como capacitar funcionários? Como inserir e modelar novos hábitos?
D) Avaliação de desempenho: Como avaliar desempenho sem avaliar comportamentos? Como melhorar desempenho de funcionários?
E) Outros: Como desenvolver comportamento de liderança, como gerenciar conflitos, como motivar pessoas, como saber a quais estímulos elas são sensíveis para serem motivadas?
Seriam infinitas as contribuições de um analista do comportamento no âmbito organizacional. Neste artigo, como trata-se do relato de uma intervenção no desempenho de um grupo de funcionários, não será focado as possibilidades citadas anteriormente, exceto pela “avaliação de desempenho”, tais possibilidades de prática objetivam incentivar leitores com afinidade nesta abordagem e interesse na atuação de psicólogos de organizações a recorrer a literatura disponível e replicar pesquisas, agregando conhecimento a prática psicológica.
Seria impossível falar em avaliação de desempenho sem mencionar o que é conduta, neste sentido, trago a definição de Sidman (2003) que refere-se a conduta como freqüências, ou seja, chamamos alguns alunos de falantes, pois observamos que ele fala bastante, chamamos alguns alunos de inteligentes, ao ver que eles estudam muito, chamamos alunos de céticos, pois estes questionam muito seus professores, chamamos pessoas de felizes, pois observamos que sorriem demais, chamamos as pessoas de organizada quando vemos a sua mesa arrumada, suas planilhas estruturadas, sua agenda detalhada, ou seja, juntamos um conjunto de comportamentos para definição de “conduta”, neste sentido, mudar uma conduta X ou Y, nos remete a idéia de mudar comportamentos X ou Y, onde ao pensarmos em como deixar alguém mais líder ou organizado, deveríamos pensar em qual (is) relação (ões) precisaríamos intervir para modificar e / ou instalar comportamentos, para posteriormente avalia-los.
Analistas do comportamento observam tais freqüências via contingências de reforçamento, onde uma contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais. Embora possa ser encontrada no dicionário com diferentes significados, esse termo é empregado na análise do comportamento como termo técnico para enfatizar como a probabilidade de um evento pode ser afetada ou causada por outros eventos.
Sidman (2003), relata que para entendermos ou influenciarmos nos processos complexos como motivação, memória, aprendizagem, percepção, interação social, desenvolvimento da personalidade, cognição e linguagem, um primeiro passo é identificar contingências de reforçamento que são fundamentais para cada um deles. Ao fazer isso, descobriremos vários tipos de contingências de reforçamento e estas fornecerão bases para uma definição formal de maneiras de controle.
SOBRE ECONOMIA DE FICHAS
Borges (2004), um dos grandes pioneiros na aplicação da técnica de “economia de fichas” em ambiente organizacional, afirma que tal técnica surgiu com os autores Ayllon e Azrin trabalhando juntos em pesquisas aplicadas em ambientes psiquiátricos, onde descreveram pela primeira vez, em1968, a “token economy” ou “economia de fichas, que foi e é considerado uma técnica de aplicação de conceitos operantes da analise do comportamento muito útil no tratamento de usuários das divisões psiquiátricas para modificação de comportamentos e adesão ao tratamento psicoterápico e farmacológico.
Em suma, a técnica consiste na troca de fichas por estímulos reforçadores positivos, por exemplo, para uma criança ganhar uma bicicleta ela tem que mostrar ao pai o boletim de notas de uma ano letivo, onde podemos observar que as fichas seriam os boletins e o reforço a bicicleta no fim do ano.
Na intervenção de Borges (2004), funcionários que emitissem bons comportamentos (sendo o conceito do que seriam “boas” condutas desenhados pela alta administração da organização ao qual efetuou-se a intervenção) adquiriam fichas que valiam pontos e posteriormente trocavam estes pontos por estímulos reforçadores (definidos como “reforçadores” pelos próprios funcionários, a exemplo de bonificação salarial, folgas, etc).
Segundo Skinner (2000), define em sua obra que os eventos reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa, por exemplo, alimento, água, ou contato sexual - à situação, para estes, damos o nome de reforços positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa - por exemplo, de muito barulho, de luz muito brilhante, de calor ou frio extremos, ou um choque elétrico da situação, para estes damos o nome de reforços negativos. Em ambos os casos o efeito do reforço será o mesmo: a probabilidade de resposta será aumentada.
Sidman (2003) complementa que, no reforço negativo, uma ação subtrai, remove ou elimina algo, fazendo com que alguma condição ou coisa que estava lá antes do ato, desapareça, enquanto que no reforçamento positivo, a ação de uma pessoa é seguida pela adição, produção ou aparecimento de algo novo, algo que não estava lá antes do ato. Continuando, o autor discute as vantagens e desvantagens de cada um: o reforçamento positivo deixa-nos livres para satisfazer nossas curiosidades, para tentar novas opções, enquanto o reforçamento negativo inculca um repertório comportamental estreito, deixando-nos temerosos de novidades, com medo de explorar, onde uma pessoa que é amplamente mantida por reforço positivo, freqüentemente produzindo "coisas boas", sentirá a vida de maneira distinta da de uma pessoa que está em contato mais freqüentemente com reforçamento negativo, tendo que constantemente, fugir ou evitar "coisas ruins".
Neste sentido, podemos afirmar que no caso da aplicação de Borges (2004), foram agregados a economia das fichas, reforçadores positivos como conseqüência aos comportamentos dos funcionários, de maneira a fortalecer as condutas desejadas pela organização, devido as suas vantagens metodológicas frente ao reforçamento negativo na transformação de comportamentos.
MODELANDO DESEMPENHO DE CONSULTORAS DE RECRUSOS HUMANOS
Sobre a Empresa
Multinacional holandesa com mais de 40 anos de tradição em prestação de serviços em recrutamento, seleção e gestão de recursos humanos, possui sua matriz instalada na República, centro de SP, conta com 104 filiais no Brasil e 10 na Argentina, totalizando mais de 800 funcionários.
Sobre o Departamento que recebeu a intervenção
A implementação da economia de fichas se deu no departamento “Central de Operações de Clientes Nacionais”. Departamento que visa através de 4 Consultores de Recursos Humanos gerenciar processos seletivos de clientes nacionais nas 104 filiais brasileiras, garantindo a qualidade na prestação de serviços em âmbito nacional, bem como orientação e capacitação de filiais para execução de projetos e consultoria interna na gestão de processos seletivos.
Sobre a queixa e demanda de intervenção organizacional
A empresa possui um forte histórico (mais de 30 anos) na prestação de serviços em recrutamento, seleção, administração e terceirização de funcionários em modalidade temporária (mão – de – obra operacional). Nos últimos 10 anos, a globalização fez com que a organização criasse um serviço diferenciado para recrutamento e seleção de funcionários em modalidade CLT, necessitando assim, atualizar as competências do seu quadro de funcionários (Consultores de Operações – funcionários coligados a execução de processos de recrutamento e seleção de pessoal para clientes) e alavancar a rentabilidade fruto de vagas fechadas em modalidade CLT. Neste cenário, nasceu a “Central de Operações de Clientes Nacionais” para suprir estas metas elaboradas pela Diretoria Administrativa (Alta administração) da organização.
Sobre a relação do autor com a empresa
O Autor iniciou suas atividades na organização como estagiário de psicologia da Div. De Cadastros em 2004 executando captação de vagas das 104 Unidades para suporte em recrutamento, captação e triagem de candidatos, posteriormente, com a entrada da Central de Operações de Clientes Nacionais a organização em 2005, foi transferido e efetivado como Auxiliar De Operações fornecendo atendimento a empresas e capacitando Unidades às necessidades dos clientes nacionais, garantindo que se a Filiar X executava o processo seletivo nos padrões Y, a filial Z,W,E,R,T,G também deveriam adequar-se a esta qualidade, auditando processos seletivos. Com a reestruturação do departamento, os auxiliares de operações assumiram as atividades de Consultores de Recursos Humanos, coordenando estas atividades junto aos Consultores de Operações das Unidades, fase em que o autor assumiu a Coordenação da ilha de Recrutamento e Seleção da Central de Operações. Devido as metas de elevar a rentabilidade de vagas de modalidade CLT, o autor avaliou que seria eficaz para atingir tal resultado, implementando via Consultores de Recursos Humanos a técnica de economia de fichas, modelando suas condutas a adequada multiplicação de modelagem de condutas das equipes de seleção das 104 filiais brasileiras. Os resultados serão discutidos a seguir, e o autor ainda permanece na posição de Coordenador de Operações da ilha de R&S de clientes Nacionais. A técnica foi implementada perante a autonomia que o cargo de Coordenador dá ao sujeito enquanto funcionário desta organização em modelar, liderar, coordenar e administrar o seu pessoal para obtenção de metas.
MÉTODO
Critérios e premiações
Durante os meses Julho / Agosto / Setembro, Foi implementado o sistema de “economia de fichas” com os seguintes critérios / condições:
A Cada 5 vagas fechadas (CLT) – 2 Pontos
A Cada 3 vagas fechadas (Reservados a profissionais com deficiência) – 2 pontos
02 pontos = 1 ficha para sorteio (no fim de cada mês foi sorteado R$ 25,00, quanto mais pontos, mais fichas compravam para terem mais chances de ganhar o prêmio em dinheiro).
10 pontos = ½ período sem atender telefone
06 pontos = 1 trufa
20 pontos = a equipe se reúne para ajudar o operador a trabalhar as suas vagas durante 1/6 período (receber ajuda da equipe para “colocar” o seu trabalho em dia, ou simplesmente alavancar os processos para o mês anterior, era a grande vantagem desta opção)
30 pontos = prêmio surpresa
Observação: Os prêmios foram elaborados mediante pesquisa junto as colaboradoras com uma lista de 20 possíveis estímulos reforçadores, os 5 mais votados receberam a classificação de pontos do coordenador conforme custo de resposta para sua implementação.
Toda semana foi passado as colaboradoras a quantidade de pontos para seu conhecimento e acompanhamento. Em toda ultima Sexta – feira do mês, realizou o sorteio e a troca de pontos.
Sujeitos
Os sujeitos foram 4 moças de idade entre 20 e 25 anos cursando entre o 3º e o 5º ano de psicologia que ocupavam o cargo de Consultora de RH na Central de Operações de Clientes Nacionais. Suas atividades concentravam o acompanhamento de processos seletivos diante das 104 filiais brasileiras, minimizando o tempo nos processos, fornecendo consultoria de RH (Fontes de recrutamento, testes psicológicos necessários, orientação na confecção de laudos, dúvidas no perfil profissiográfico das vagas, parcerias, abertura de vagas, negociação de perfis, auditoria de processos seletivos, cobrando unidades quanto à posição de processos, etc.).
RESULTADOS
Mês de Junho (linha de Base)
Pontos do Sujeito A = 7
Pontos do Sujeito B = 5
Pontos do Sujeito C = 6
Pontos do Sujeito D = 6
Mês de Julho
Pontos do Sujeito A = 27
Pontos do Sujeito B = 0
Pontos do Sujeito C = 14
Pontos do Sujeito D = 16
Mês de Agosto
Pontos do Sujeito A = 16
Pontos do Sujeito B = 8
Pontos do Sujeito C = 30
Pontos do Sujeito D = 12
Mês de Setembro
Pontos do Sujeito A = 24
Pontos do Sujeito B = 0
Pontos do Sujeito C = 16
Pontos do Sujeito D = 22
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nota-se da linha de base (mês de junho) ao mês de agosto que embora há uma discrepância entre os valores obtidos (pontuação), percebe-se um aumento gradual entre eles, o que indica, conseqüentemente o aumento no fechamento de vagas CLT.
É importante destacar que o sujeito B tirou férias no mês de Julho, por tanto, seu quadro de pontos ficou “zerado”. Durante o processo semanal de feedback foi observado perante as colaboradoras comportamentos de disputa (Como por exemplo, comentar com as colegas: “Estou ganhando esta semana”), que de certa maneira, incentivavam as demais colaboradoras a acelerar o processo de acompanhamento de vagas em busca processos finalizados.
Como todas as colaboradoras podiam “comprar” estímulos reforçadores (prêmios), nenhuma colaboradora passou o mês sem ser consequenciada pelos comportamentos emitidos ao longo do mês.
Nota-se ainda, que a colaboradora que vai bem em um determinado mês, é afetada por uma queda no mês subseqüente, esta queda é justificada pela categorização do trabalho deste departamento, ou seja, nas rotinas de uma Consultora de RH, a vaga fechada de hoje é conseqüência de comportamentos do passado (em um dia recruta, no outro entrevista e confecciona o laudo, em outro aplica testes, em outro agenda entrevista com cliente, neste caminho se o candidato for reprovado, reinicia-se o processo, enfim, há processos que estendem-se por mais de uma semana), neste sentido, se corrermos com os processos esta semana, provavelmente, seus resultados emergirão na semana que vem e assim sucessivamente.
Em paralelo ao repertório comportamental de cada uma (filogenético, ontogenético e cultural), ou seja, moças de diferentes histórias de vida, idade, criação, universidades, regiões de sp, experiência profissional anterior, tempo de casa, foi considerado os clientes que cada uma abrangiam em sua carteira, ou seja, seria injusto expor 4 consultoras a técnica de “economia de fichas” se uma mantivesse a administração dos clientes com vagas consideradas “fáceis” a exemplo de: vendedor, auxiliar administrativo, onde a demanda de mão-de-obra é maior do que a oferta, enquanto outra consultora mantivesse a administração de clientes com vagas diferenciadas, a exemplo de: comprador internacional, controller, gestor de fazendas, coordenador de manufatura, e assim por diante.
Ouve um cuidado com a distribuição de clientes perante as Consultoras que por sua vez, concentravam seu trabalho no alinhamento de processos seletivos das 104 filiais, tais filiais é que realmente “colocavam a mão na massa” para entrega do produto final. Eventualmente, cada consultora realizava dinâmicas para dar modelos a algumas unidades, realizava visitas de relacionamento, dentre outras atividades que as retiravam do ambiente de trabalho (matriz).
Os resultados foram apresentados a Gerência de Operações e permanece na empresa até a data de hoje. Algumas posições de liderança não possuem a graduação de psicologia, neste sentido, ainda consideram as mudanças obtidas, como pequenas, dentre estes ainda há líderes que acham ½ período sem atender o telefone um tremendo custo. A exemplo da resistência de alguns membros dentro da cultura e clima desta empresa, a técnica se manterá neste departamento até agregar “maiores” resultados, para posteriormente, ser implementada nos outros departamentos.
CONCLUSÃO
Segundo Danna e Matos (1999), Os psicólogos comportamentais são bem rigorosos quanto aos procedimentos de observação e registro. Estes psicólogos preferem a observação sistemáticas aos testes, e a consideram como um dofuns principais instrumentos de coleta de dados acerca do comportamento e da situação ambiental, é exatamente neste sentido, que a presente intervenção objetivou coletar dados concretos acerca de mudanças comportamentais, a exemplo do aumento de vagas fechadas em regime CLT em paralelo a motivação e avaliação de desempenho de funcionários.
Se ao invés da técnica “economia de fichas”, tivéssemos inserido inventários ou outras ferramentas para avaliação de desempenho, talvez não tivesse sido possível, consequenciar o comportamento das colaboradoras / consultoras de RH (motivando-as) e, posteriormente, propiciar a gerência um panorama geral de como vem crescendo a curva de processos finalizados em regime CLT, via comportamentos das colaboradoras que foram expostas a intervenção.
Em toda Organização, Instituição ou outro tipo de agência controladora, notaremos algumas questões que vão em conflito a intervenção psicológica, é o caso de: custos, tempo, conceito de eficácia e eficiência de administradores que se diferem de psicólogos, estrutura, enfim, tais questões devem ser analisadas minuciosamente para não comprometer os resultados de uma intervenção psicológica.
Nesta organização por exemplo, é fato que as consultoras mudaram os comportamentos, ao compara-las com a linha de base, porém, para ganhar a credibilidade da alta administração, será necessário repensar em como expandir os resultados, de maneira a tornar visível aos ideais das políticas administrativas desta empresa, até lá, um dos objetivos está sendo alcançado: aumentar a rentabilidade via contratações em regime CLT.
Quando Chiavenato (1995) dizia em sua obra que as metodologias de avaliação de desempenho são novas, ele estava se referindo aos cuidados que profissionais de RH devem ter ao engajar-se nestas ferramentas para atingir objetivos da Div. De RH. Tais técnicas se não administradas adequadamente, podem levar o avaliador a tomar julgamento de um colaborador, sem considerar o ambiente com o qual interage.
Diferente de administradores (que focam o desenvolvimento de negócios), o psicólogo, independente da abordagem, não pode esquecer que o seu objeto de estudo é o homem, e por tanto, há uma séria de interações para qual temos que dirigir o nosso olhar ao tomarmos partido frente a: laudos de seleção, relatórios de treinamento, avaliação de desempenho, avaliação para promoções, enfim, posições que o levarão para outras interações, interações estas que podem elevar, diminuir ou manter a rentabilidade de um departamento.
BIBLIOGRAFIA
Borges, B.N. (2004). Analise aplicada do comportamento: utilizando economia de fichas para melhorar desempenho. Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva. Vol. 1, nº 1, 031-038. São Paulo.
Chiavenato, I. (1999). Recursos Humanos. 3º edição compacta. São Paulo: Atlas.
Danna, M.F e Matos, M. A. (1999). Ensinando Observação: Uma introdução. 4º Edição, São Paulo: Edicon
Matos, M. A e Tomanari, G.Y. (2002). A análise do comportamento no laboratório didático. Barueri: Manole. Cap. I e II.
Sidman, M (2003). Coerção e suas implicações. Campinas: Livro Pleno.

10/04/2006

Por que sou Behaviorista Radical?


Autor: Eduardo Alencar

Resumo

Os estímulos naturais pelos quais estamos expostos e em constante interação, levam-nos as mais diversas / diferentes contingências (história ontogenética). Você se lembra por que foi fazer o curso de psicologia após a saída do ensino médio ou se esperou uns anos entre a saída do 2º grau e o ingresso do ensino superior? Por que escolheu uma determinada abordagem teórica? Por que hoje trabalha em organizações e não em clinica ou vice - versa? Por que não gostava de um professor ou de outro? É exatamente sobre a reflexão destas questões que tentei expor no presente artigo o “por que sou behaviorista radical”.

Palavras Chaves: Behaviorismo radical, formação de psicólogo, análise do comportamento, atuação profissional.

Muitos usuários do site (www.redepsi.com.br) tem me mandado e-mails perguntando por que sou "Behaviorismo Radical", então decidi sintetizar em um artigo as minhas justificativas e começo chamando a atenção dos leitores para o fato de que todos nós fomos gerados, criados e por tanto desenvolvidos de maneiras diferentes, cada um construiu e mantém sua bagagem ontogenética (interações sujeito – ambiente), filogenética (herança de genes, formação fisiológica, biológica, neurológica, características de uma determinada espécie) e cultural (cultura que estamos inseridos e em constante interação), estas são responsáveis pelo fato dos nossos comportamentos serem sensíveis a uma determinada conseqüência e não a outras.

Mesmo irmãos gêmeos gerados pelos mesmos pais, criados na mesma casa, terão diferenças em sua bagagem (repertório comportamental). Neste sentido, trago para iniciarmos o tema deste artigo, os fatos de que: fomos criados em diferentes regiões, interagindo com diferentes personalidades (repertório comportamental), e por tanto, recebendo diferentes tipos de “educação”, freqüentamos diferentes escolas de ensino infantil, fundamental e médio, investimos em diferentes relacionamentos amorosos, recreativos e sociais, despertamos interesses e motivações diferentes, enfim, somos expostos a diferentes contingências de reforçamento positivo e coercitivo que estão relacionado a como respondemos as situações do dia – a – dia.

Para justificar a escolha da abordagem, não vejo outra maneira se não contar um pouco da minha história de vida: no meu caso, iniciei colegial técnico de administração de empresas em uma instituição particular na zona norte de São Paulo – capital, pelo fato de minha mãe ser contadora, profissional autônoma dirigente de sua própria consultoria de contabilidade e na época, contava com o meu ingresso neste negócio. Com 14 anos, eu não fazia a mínima idéia do que faziam os administradores, contadores ou profissionais desta área. Com 15 anos no meu 2º ano técnico, eu já fazia uma vaga idéia das possíveis rotinas de um técnico de administração, acho que ali, comecei a direcionar a minha carreira, até então, trabalhava com a minha mãe atualizando fichas de registros de empregados (Depto. Pessoal), cadastrando dados em sistemas e separando documentos (arquivo), dentre outras atividades de escritório quando recebi uma ligação de uma empresa do seguimento de Rádio e Televisão convidando-me a participar de um processo seletivo para estágio no RH.


Nesta época estava tendo as matérias de psicologia (que abordavam motivação, mecanismos de defesa, relações humanas) e administração de pessoal (recrutamento e seleção, treinamento, cargos e salários, segurança do trabalho, departamento pessoal, etc.), que já me davam a vaga idéia do que era o RH, em paralelo as outras matérias (administração financeira, estatística, administração de produção, direito, economia, informática, etc.) aceitei participar do processo e por sorte ou não, passei. Muito feliz, mesmo ganhando uma bolsa auxílio de R$ 191,00 para trabalhar de Segunda à Sexta das 08:00 às 18:00 horas no Morumbi (sendo que morava e estudava na zona norte), como únicos benefícios VT e restaurante interno, me mantive lá por 6 meses.

Quero mostrar com os dois parágrafos acima o quanto de contingências já me afetavam:

- Estimulação aversiva: Trabalhar longe, ganhar pouco, acordar muito cedo, dormir muito tarde, etc.
- Estimulação positiva: Ganho de experiência, atuação em uma empresa de nome, atuação na área de RH, autonomia financeira, etc.
- Estimulação neutra: As pessoas que trabalhavam lá, que ao conhece-las, deixaram de ser neutras e passaram a ter influência sobre minha vida, os meus professores que deixaram de ser neutros quando passei a interagir no ambiente pedagógico, etc.

Com 14 anos eu queria ser veterinário, mas minha família não tinha dinheiro para pagar uma faculdade nesta modalidade, como fiz colegial técnico, tive menor quantidade de matérias básicas (português, biologia, inglês, física, etc.), o que pode ter sido um dos fatores de eu não conseguir uma vaga em instituição pública de ensino superior, enfim pode ser que eu não tivesse despertado interesse por RH se o meu primeiro estágio do curso técnico tivesse sido no departamento financeiro de uma financeira, ou se eu não tivesse tido aulas com professores pelos quais não fosse sensível as contingências de ensino como por exemplo o professor de estatística.

Este recorte da minha trajetória (experiência com RH, curso técnico, aulas de psicologia aos 14,15 e 16 anos) foi um dos grandes responsáveis pela modelação de minha escolha a formação de psicólogo, já a escolha pela instituição permeia a comodidade frente ao acesso (questões logísticas), disposição de preço, dentre outros estímulos que fizeram o diferencial na escolha pela mesma.

Atualmente sou estudante de psicologia e trabalho na área Organizacional coordenando operações de recrutamento e seleção, recebo uma remuneração bem diferente dos colegas de classe que trabalham em escolas, clinicas e / ou clinicas (acompanhamento terapêutico – AT), neste sentido o salário pode ser um grande estímulo nas formas de responder as contingências profissionais de trabalhar ou não em uma determinada área.

Lembram na graduação quando vimos o experimento do Seligman onde “cachorros” exposto ao que chamamos de “desamparo aprendido” mantem-se na contingência em que suas respostas são consequenciadas por choques mesmo quando tem a opção de elimina-lo, não o fazem? Então, alguns psicólogos trabalham em organizações, não gostam do trabalho, são livres para procurar outro emprego e não o fazem. Em diversas situações, somos responsáveis pela escolha de fazer ou não fazer (frente a disposição de estímulos), em outras, as contingências fazem com que o homem faça coisas mesmo que não “goste” de faze-las.

Algumas pessoas poderiam afirmar, mas eu escolhi fazer psicologia por que eu gosto de ajudar as pessoas...eu pergunto: e por que você gosta de ajudar as pessoas? Não há respostas que não tenham suas raízes na interação entre sujeitos – ambientes, neste sentido, o behaviorismo radical do americano BF Skinner (radical no sentido de raiz e não de radicalismo, ignorância aos eventos encobertos – sentimentos como propunha o behaviorismo metodológico de Watson, focado apenas nos comportamentos observáveis) possibilita ao psicólogo a compreensão da ordem entre os eventos, onde podemos ir além das relações de causa – efeito, chegando a intervenções (e avaliações destas), a compreensões (e o que fazer com elas), enfim, permite analisar funcionalmente uma relação, desde semelhante ao que chamamos de “comportamentos patológicos” até aos comportamentos de “Por que escolho uma profissão ou uma abordagem”.

O behaviorismo radical enquanto filosofia da análise do comportamento, dá a terapia comportamental a possibilidade de comando no que se refere ao planejamento da estratégia geral da terapia e / ou controle de seus detalhes à medida que prossegue, ou seja, quando um tipo de técnica falha em obter mudança em comportamentos, imediatamente outra é tentada, quando ocorrem mudanças comportamentais desejadas, é nítida e pode ser facilmente mantida e/ou reforçada, as observações dentro ou fora do setting terapêutico, com o seu rigor científico permitem a previsão e conseqüentemente, o planejamento de eficazes intervenções.

O psicólogo, independente da abordagem, está em busca de compreensões acerca das maneiras em que as pessoas se comportam, por que fazem X coisas e não Y, trabalham com os seus medos, limitações, vontades, sentimentos, sua sexualidade, dentre outros temas que correlacionam ao nosso objeto de estudo (homem), é exatamente neste sentido, que nossa história de vida (que nos modelou deixando – nos sensíveis a determinados estímulos e não a outros) deixa claro as influências de gostarmos ou não de matemática, gostarmos ou não de neuroanatomia funcional, e por tanto, gostarmos ou não de uma determinada abordagem psicológica. Em paralelo a isso, os professores possuem grande responsabilidade no repasse de conteúdos programáticos, compromisso com a didática, compromisso com o ensino.

Em qualquer abordagem, erro na teoria, significa erro na prática. Para criticar uma determinada abordagem, precisamos conhecer o essencial das outras (visão de homem – mundo, objetivos terapêuticos, metodologias de pesquisa, etc.), na minha atual instituição de ensino, posso afirmar que pude escolher o behaviorismo radical com plena convicção do que eu não concordava em outras abordagens, neste caminho, ao invés de aderir as críticas que ouvia nos corredores frente a abordagem comportamental, me engajei em congressos, literatura e pesquisas para averiguar o que realmente estava por trás de cada questionamento, acho que foi exatamente ai que comecei a ficar sensível ao rigor da analise do comportamento, aprendi a distinguir o behaviorismo radical do metodológico, aprendi a estudar sentimentos, descobri que esta abordagem trabalha com grupos, casais, crianças, idosos, organizações, instituições, luto, medo, limitações, mudança de hábitos, esporte, marketing, dentre muitas outras possibilidades presentes nas “janelas para o mundo” ( como eu “apelidei” os congressos de comportamental).

Compreender o que o homem faz a partir de suas interações com o ambiente nos dá a possibilidade de chegar a raiz de comportamentos, entendendo como se dão, se mantém e como podemos mudar o fluxo de comportamentos, hábitos, sentimentos, inclusive ambientes. É neste sentido que eu me achei no BEHAVIORISMO RADICAL, tal abordagem é condizente com minha história de vida (aprendizagem, sensibilidade a reforçadores específicos, disposição com professores X e não Y, dentre muitos outros fatores).